Quanto às declarações recentes do Primeiro Ministro de Portugal e de Paulo Rangel: emigrar não é, nunca foi, nem será, a solução Sebastiânica para Portugal e para os Portugueses. Porque nunca me senti tão vulnerável como quando emigrei. Porque quando emigramos, sujeitamo-nos. Porque temos medo. Porque somos estrangeiros numa terra estranha. Porque se as coisas correrem mal, somos nós o primeiro alvo a abater. Porque temos de andar na linha. Porque esta não é a nossa terra. Porque não temos dinheiro e precisamos. Porque nos sujeitamos a tudo quando o vento traga sem sequer ter o direito de reclamar. Porque não só não sabemos o dia de amanhã, como muitas vezes nem sequer sabemos se chegamos ao amanhã. Porque não temos família ou amigos para nos apoiar. Porque estamos sozinhos. Porque temos fome e não temos de comer. Porque somos emigrantes e emigrantes havemos de ser. Porque temos de viver com pessoas que nos são estranhas. Porque não temos em quem confiar. Porque temos medo. Temos medo de perder o emprego e fazemos tudo para o reter. Tudo. E por fazer tudo, sujeitamo-nos. Não faltamos, não ficamos doentes (e se estamos doentes, "não estamos doentes"), trabalhamos horas extra, desempenhamos várias funções, trabalhamos por menos dinheiro e mais horas, trabalhamos por dois ou por três. Porque sabemos o valor que o trabalho tem e porque um dia prometemos a nós mesmos nunca mais ficar desempregados. Porque um dia prometemos a nós próprios que, se era para emigrar, ao menos que valesse a pena. Porque nada justifica, e nada fizemos para merecer, este exílio que é emigrar sem nunca ter a certeza de um dia poder regressar para poder abraçar aqueles que mais amamos.

Senhor Primeiro Ministro e senhor Paulo Rangel: emigrar não é, nem nunca foi, uma solução, mas sim um problema, o maior das nossas vidas. Porque poucos são os que vingam, e assim se engana um povo inteiro,  sujeito aos caprichos e vontades de entidades patronais sem escrúpulos, conhecedoras da situação vulnerável em que lá fora nos encontramos.

Porque lá fora não mandamos nada: somos mandados. Porque lá fora não somos ninguém. Porque só quando regressamos é que somos alguém. Porque só quando regressamos é que nos dizem o quão grandes são os nossos tomates. Porque fomos e voltámos, e porque por voltar somos os maiores. Mas quando nos mandaram embora, ninguém nos sentiu a falta. 

Desculpe, senhor Primeiro Ministro e senhor Paulo Rangel, um conselho: não emigrem. Ao invés, mandem para o estrangeiro os vossos filhos, para assim poderem viver todas as noites das vossas vidas de coração nas mãos, com as duas mão atadas caso alguma coisa corra mal. Porque é isso o que nos acontece quando somos emigrantes: quando as coisas correm mal, estamos sozinhos, e no estrangeiro somos estrangeiros, e ninguém nos quer ajudar. Vulneráveis para sempre, com medo para sempre. Emigrar para quê? Porque um Primeiro Ministro de Portugal assim o disse...